Parque Nacional da Peneda-Gerês



Motivos de Interesse


Património histórico-cultural

Paisagem O território do Parque Nacional da Peneda Geres foi objecto de uma antiquíssima ocupação humana desde os tempos proto-históricos até aos nossos dias. Facilmente se descortinam ainda vestígios megalíticos, célticos, romanos e, naturalmente, medievais, atestando continua e organizada utilização desse espaço, servindo por vezes e desde tempos imemoriais de referencia geográfica ou limite ás comunidades.

Assim, muito antes de Portugal existir como nação, há pelo menos cinco mil anos, já nesta região viviam muitos povos e as montanhas abrigavam comunidades agro-pastoris, construtoras de grandes monumentos funerários como as antas, túmulos cobertos formando mamoas como as que ainda se podem encontrar nas extensas necrópoles do planalto de Castro Laboreiro, na portela do Mezio, nas chãs da Serra Amarela ou nos altos frios da Mourela em Montalegre, delimitando espaços sagrados e fronteiras que perduraram por vezes até aos nossos dias.
Vestígios da arte dessas gentes remotas tem como melhores exemplos o notável santuário rupestre de Gião ou o Penedo do Encanto da Bouça do Colado em Parada.

Mais tarde, na Idade do Ferro, as comunidades humanas vão-se fixar em povoados fortificados. Pontuando a cumeeira dos outeiros ou os esporões de meia encosta, estes castros do norte de Portugal, serão, até à chegada dos romanos, a mais importante referência na paisagem e na cultura. Nos territórios montanhosos do Parque Nacional, ou nas suas imediações, arqueosítios como a Calcedónia, o Castro de Outeiro ou o Castro de Donões em Montalegre recordam-nos esses tempos recuados.

No ano 173 a.C. as legiões romanas alcançaram pela primeira vez as terras do noroeste da Hispania. Cerca de 138 a.C. o general Décio Junio Bruto, ultrapassando o Douro, atinge o Rio Minho ocupando este território. Seria necessário, entretanto, mais de um século para pacificar os aguerridos e irredutíveis Calaicos, bem defendidos pelas muralhas dos seus castros. A romanização do Conventus Bracaraugustano tem na Geira romana, a via 18 do Itinerário de Antonino, um dos mais relevantes monumentos, quer pela conservação do seu traçado sinuoso quer pelo número e qualidade dos seus miliários epigrafados.

Durante os seguintes e conturbados tempos medievais, a transformação da paisagem e o ordenamento do espaço desenvolveu-se segundo os ritmos e pulsações de uma economia agrária. A ligação à sua terra, um certo desejo de autarcidade, a afinidade com horizontes limitados às linhas do relevo envolvente, explicam em parte a representação fechada e a imagem do território, até nós veiculada pelos documentos medievais que se prefigurava na paróquia/freguesia, unidade religiosa de base territorial, e também em volta do mosteiro como em Santa Maria de Pitões das Júnias e Ermelo ou do castelo como os de Melgaço, Castro Laboreiro, Lindoso, Nóbrega, Covide, e Montalegre.
Testemunhos vivos desses períodos distantes são, também, as brandas e inverneiras, as silhas dos ursos e os fojos de lobos, os arcaicos núcleos rurais e pequenos lugares, dispersos pelas encostas ou encastelados nos montes ou, ainda mais tardios, os espigueiros e as eiras comunitárias, relíquias da introdução da cultura do milho já no sec.XVII.
Assim, estas comunidades quase isoladas no meio hostil da serra, desenvolveram uma actividade agro-pastoril de sobrevivência, conseguindo manter até este século uma identidade, uma cultura comunitária cuja origem se perde no tempo e que tão bem estava representada na aldeia de Vilarinho das Furnas, hoje submersa pela barragem, símbolo dos novos tempos e de novos ritmos.